segunda-feira

O projeto de nossa viagem começou a ser discutido cerca de 6 meses antes de seu início. Fizemos nosso roteiro baseado na segurança em detrimento da menor distância. Optamos pela maior quilometragem em pista dupla e por trechos com menor tráfego de caminhões. Os participantes dessa aventura, Paulo Amaral – Yamaha XT660R; Roberto Firmino (Mineiro) – Yamaha XT 600; e Gilson Wander – Suzuki Bandit 650S, vivem em Brasília (DF) e são membros do motoclube Águia Solitária.
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Primeiro dia de viagem – Dia 8/10/2008, quarta - De Brasília a Limeira (SP) – 850 km rodados

Saímos de Brasília no dia 8 de outubro, às 6:48h, fazendo o caminho por Cristalina/GO, seguindo por Uberlândia e pegando as rodovias Anhanguera e Bandeirantes em São Paulo. Chegamos em Limeira/SP às 17:30h, onde pernoitamos depois de rodar 850 km nesse primeiro dia. O lado positivo desse trajeto inicial foi a excelente pista de Uberaba até Limeira/SP, com asfalto perfeito e sem cobrança de pedágios para motos. Esse trecho nos possibilitou desenvolver a maior quilometragem com a melhor média horária durante toda a viagem, além de muito conforto na pilotagem.

(fotos na rodovia Bandeirantes e em uma adega em Limeira)

Segundo dia de viagem – Dia 9/10/2008, quinta - De Limeira (SP) a União da Vitória (PR) – 780 km rodados

No dia 9, saímos de Limeira aproximadamente às 7h da manhã, pela rodovia Bandeirantes. Encaramos muito frio sob tempo nublado naquela manhã. Pegamos a Regis Bittencourt e trafegamos por um trecho de 32 km de serra e de pista não-duplicada. Muitos caminhões na estrada e, para piorar, tivemos que pilotar sob uma chuva fria que se intensificava a cada quilômetro.

Após este trecho, seguimos em direção a Curitiba novamente em pista dupla, mas com frio e chuva intensos. Depois de rodar 780 km, chegamos a União da Vitória/PR, onde passamos a segunda noite. Chegamos bastante cansados pelas difíceis condições de pilotagem durante todo o dia.





(fotos: Mineiro junto com os adesivos de centenas de motoclubes, em Itapecerica da Serra; na divisa SPxPR e na rodovia Régis Bittencourt)

Terceiro e quarto dia de viagem – Dia 10 e 11 /10/2008, sexta e sábado - De União da Vitória (PR) a Santa Maria (RS) – 613 km rodados – e curtindo o Mercocycle, em Santa Maria.

Na sexta feira, dia 10, cumpriríamos nosso último trecho da viagem até nosso destino inicial, Santa Maria/RS, onde nos dirigimos para participar do 12º Mercocycle, um dos mais tradicionais encontros de motociclistas do Brasil, que também acolhe estradeiros de muitos países vizinhos do MERCOSUL.

Saímos de União da Vitória as 7:30h, ainda com o frio nos acompanhando e com uma visibilidade muito baixa por causa da neblina acentuada que não nos permitia afastar mais do que alguns metros um do outro sem a perda do contato visual com a motocicleta que seguia a frente. Depois de algumas horas, o céu azul e o sol ressurgiram, tornando a viagem mais agradável, permitindo-nos observar as lindas paisagens das serras de Santa Catarina. Se tivéssemos parado em todos os lugares bonitos e aprazíveis que vimos não chegaríamos antes do anoitecer em Santa Maria/RS. Lá chegamos por volta das 16 h, com 613 km percorridos naquele terceiro dia de viagem.

A primeira providência do Gilson foi procurar uma loja que vendesse roupa "segunda pele" . O frio o havia castigado até ali. Prosseguir viagem desprotegido da friagem, nem pensar! Mineiro também correu para comprar uma almofada de gel para seu traseiro esfolado pelo banco da XT600. Só o Paulo Amaral estava inteiro. A experiência de milhares de quilômetros rodados numa motocicleta, particularmente para o sul do país, o fizeram adquirir com muita antecedência todos os apetrechos necessários para uma viagem longa e friorenta. O fato, porém, é que nenhum de nós esperava um frio tão intenso nesta época do ano. Pilotaramos muitas horas sob temperatura abaixo dos 10 graus, não muito comum na primavera.

No motorcycle, fomos recepcionados pelos integrantes do Gaudérios do Asfalto, moto clube organizador do evento. Tivemos a grata satisfação de ficar hospedados na casa do JOPA, irmão do Paulo Amaral, que também é motociclista e mora em frente ao local do encontro.

O 12º Mercocycle foi um espetáculo em termos de organização e de congraçamento. Os participantes receberam identificação por intermédio de fita de pulso e camisetas. Foi oferecido almoço nas proximidades da base área da cidade, com visitação aos hangares repletos de helicópteros e aviões a jato, e onde mais tarde fomos contemplados por uma demonstração de vôos rasantes.

O jantar de encerramento aconteceu no dia 11 no ginásio de esportes ao lado do local do evento. Os Gaudérios do Asfalto fizeram vários arcos com balões na entrada do ginásio, que foram envolvidos em fumaça de show de rock. Todos os seus integrantes postaram-se em fila, aplaudindo os visitantes e agradecendo a participação de cada moto clube de cada cidade ao som de aplausos de seus mais cem integrantes devidamente uniformizados. Uma demonstração de carinho emocionante. O jantar transcorreu sem tumulto, apesar das filas, ao som de um artista local que cantou desde Raul Seixas a Roberto Carlos. Era um show a parte! Fizeram sucesso mesmo os hinos do Inter e do Grêmio, do estado gaúcho, além, é claro, do hino nacional que foi cantado em pé por todos que estavam no ginásio.

(fotos ao lado de JOPA e no jantar de encerramento do 12º Motorcycle, em Santa Maria - RS)

sábado

Quinto dia de viagem – Dia 12/10/2008, domingo – De Santa Maria (RS) até as proximidades de Concórdia (Argentina) – 600 km rodados

Ficamos em Santa Maria até o dia 11 de outubro. Na manhã do dia 12 seguimos para Uruguaiana/RS, onde fizemos o câmbio de reais por pesos na rodoviária da cidade. Adentramos a Argentina por Passo de Los Libres onde observamos que nos postos YPF existe diferença considerável no preço da gasolina para argentinos e estrangeiros, que pagam mais caro. Esses postos não são uma boa alternativa de abastecimento.

Seguimos em direção a Buenos Aires. Ao passar pelas imediações de Concórdia, na província de Entre Rios, fomos parados e extorquidos pela polícia camiñera, como já esperávamos, pois esta é, infelizmente, uma prática corriqueira da polícia rodoviária argentina, particularmente nas províncias de Entre Rios e Corrientes. Fato denunciado por diversos viajantes e publicado em livros e revistas especializados em turismo e veículos. É difícil entrar e sair da Argentina sem ser parado por qualquer motivo e achacado pelos policiais corruptos. São milhares de relatos de motoristas e motociclistas que visitaram aquele país. Todo mundo sabe, mas parece que o governo de lá faz vista grossa para a corrupção policial que corre solta. Depois de nos atrasarem por 40 minutos e após limparem nossas carteiras, seguimos para Concórdia. Mal andamos 70 km e fomos obrigados a parar por causa de uma tempestade que se iniciava. Os ventos eram fortes e suficientes para balançar as motos, mesmo paradas. Resolvemos pernoitar em um hotel ao lado do posto de gasolina, onde degustamos nossas primeiras garrafas de vinho da região. No hotel, tivemos a oportunidade fazer amizade com um motociclista argentino que havia participado, juntamente com sua esposa, do encontro em Santa Maria. Relatamos a ele o incidente com os policiais, fato que o deixou indignado por se tratar de um magistrado em seu país. Neste dia rodamos 600 km.


(foto em Uruguaiana (RS), na fronteira com a Argentina)

Sexto dia de viagem – Dia 13/10/2008, segunda – De Concórdia a Buenos Aires – 460 km rodados

Neste dia 13, após esperarmos sem sucesso por algumas horas as chuvas e os ventos diminuírem, resolvemos seguir para Buenos Aires por volta das 10 h embaixo daquele mal tempo mesmo. Almoçamos algumas horas depois e no reinicio da viagem fomos novamente parados e constrangidos pela polícia camiñera que queria nos obrigar a pagar outra “multa” (cujo dinheiro iria direto para o bolso deles). Mais um golpe dos corruptos contra nossos bolsos. Por sorte, naquele momento, antes de desembolsarmos nova propina, avistamos a moto BMW de nosso amigo magistrado argentino que parou em nosso socorro. Ele desceu de sua moto e dirigiu-se ao comandante da “missão” relatando que éramos companheiros de encontro e de viagem e que já havíamos sido extorquidos no dia anterior. Exigiu nossa liberação, o que acabou acontecendo! Depois deste encontro não programado fomos escoltados pelo novo amigo até a entrada de Buenos Aires. A rodovia de acesso à capital argentina possui diversas pistas de rolamento e seguimos tranqüilos por aquele percurso. Com o auxílio do GPS chegamos ao nosso hotel sem maiores problemas. Contamos também com a sorte de se tratar de feriado no país, com o trânsito bastante vazio. Chegamos aproximadamente às 16h ao hotel com 460 km rodados naquele dia.

À noite saímos para tomar um vinho e comer Parrillada (churrasco argentino com diversos tipos de carnes) que na verdade não nos agradou muito por causa das diferentes carnes e do tempero que não somos muito habituados no nosso dia-a-dia no Brasil.




(fotos: ao lado do magistrado argentino e sua esposa (que nos socorreram dos policiais corruptos), comendo parillada portenha e em frente do estádio do Boca Júniors)


Sétimo dia de viagem – Dia 14/10/2008, terça – Parados em Buenos Aires

Neste dia 14 contratamos, através do hotel, uma empresa de turismo que nos levou a um tour por Buenos Aires, onde tiramos fotos nos principais pontos turísticos. Trata-se de uma cidade incrivelmente linda e com muitos contrastes sociais: como ficou evidenciado no bairro da Boca (onde fica o estádio do Boca Juniors), muito pobre; e do outro lado da cidade onde se localiza o Puerto Madero, lugar de restaurantes chiques freqüentados pela elite da sociedade argentina.



(fotos em Puerto Madero e Plaza Rosada)

sexta-feira

VOLTANDO PARA CASA PELO URUGUAI

Oitavo dia de viagem – Dia 15/10/2008, quarta – Seguindo para o Uruguai – 7 km rodados

Seguimos, neste dia 15, para a área de embarque do Buquebus, onde perdemos bastante tempo nas filas. Aconselha-se a chegar com bastante antecedência para encarar os procedimentos de embarque dos veículos, da compra dos bilhetes, da aduana etc. Às 9h embarcamos, enfim. A travessia do rio La Plata durou cerca de 3h até Colônia do Sacramento, pequena cidade Uruguaia, tranqüila e acolhedora. Os habitantes de Colônia, na nossa avaliação, foram bem mais hospitaleiros e atenciosos que nossos hermanos argentinos. Esbanjavam paciência ao tentar entender nosso portunhol de péssima qualidade e repetiam diversas vezes, com extrema cordialidade, as palavras que não compreendíamos de imediato. Colônia é a cidade mais antiga do Uruguai foi colonizada por portugueses. Suas ruas, estreitas e calçadas com pedras, dão charme especial à localidade. Há muitos restaurantes belíssimos na avenida que margeia o rio La Plata, que oferecem comida barata e vinhos excelentes a preços bem baixos, que variaram de 9 a 15 reais a garrafa. Passamos uma noite deliciosa desfrutando especialmente dos vinhos uruguaios. Neste dia percorremos 7 km apenas: 2 km do hotel ao Porto, em Buenos Aires, e outros 5 km do Porto ao centro da cidade de Colônia.

(foto: Paulo Amaral no Buquebus, travessia de B. Aires para Colonia del Sacramento, no Uruguai e o pôr-do-sol em Colônia)


Nono dia de viagem – Dia 16/10/2008, quinta – De Colônia do Sacramento a Santana do Livramento (RS) –


Neste dia 16 fomos para o Montevideo, distante 170 km de Colônia, onde apenas passamos por dentro da cidade, pois nosso objetivo era chegar logo em Rivera, também no Uruguai, que faz divisa com Santana do Livramento, no Brasil. Rivera é uma cidade turística e seu comércio é baseado na venda de produtos importados isentos de impostos, ou seja, com preços bem abaixo dos praticados no Brasil. Mesmo considerando o alto valor do dólar nesta época, ainda foi possível comprar perfumes e whisky a preços muito atrativos. Adquirimos algumas garrafas de Johnny Walker, que por lá custaram cerca de 35 reais. Gilson aproveitou para trocar os pneus da Bandit, que já estavam com 14.500 km rodados.

Atravessamos a fronteira e dormimos em Santana do Livramento.


Décimo dia de viagem – Dia 17/10/2008, sexta – De Santana do Livramento (RS) a Santa Maria (RS) – 251 km

Fizemos algumas compras na manhã do dia 17 e seguimos para Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Novamente as chuvas e o vento forte deram o ar da graça nos forçando a dormir novamente em Santa Maria/RS, desta vez em um hotel da cidade. Rodamos apenas 251km neste dia. Aproveitamos a noite em Santa Maria para desfrutar de uma das garrafas de whisky compradas em Rivera. Depois desse esforço, fomos dormir cedo, sem nenhum tipo de insônia nos incomodando.

Décimo primeiro dia de viagem – Dia 18/10/2008, sábado – De Santa Maria (RS) a S. Mateus do Sul (PR) - 688 km rodados

Seguimos, logo pela manhã do dia 18, para São Mateus do Sul/PR, debaixo de muita chuva por todo o percurso. Tivemos que ter bastante cuidado por todo o trajeto, principalmente nas serras de Santa Catarina, onde havia muitos caminhões. Percorremos 688 km neste dia.


Décimo segundo dia de viagem – Dia 19/10/2008, domingo – De S. Mateus do Sul (PR) a Nova Granada/SP- 741 km rodados

Para o dia 19 a programação era ir de São Mateus do Sul/PR até São José do Rio Preto/SP, mas mesmo considerando um trecho de 50 km cheio de buracos e outro com obras de recapeamento na PR 92, conseguimos rodar um pouco mais. Dormimos em uma cidade pequena, Nova Granada/SP a 35 km de Rio Preto.

Décimo terceiro dia de viagem – Dia 20/10/2008, segunda – De Nova Granada/SP a Brasília – 675 km rodados

Neste dia 20, último dia de nossa viagem, seguimos pela BR 153, que está toda sendo reformada, e onde tivemos que pagar pedágios... e caros. Chegamos a desembolsar R$ 5,00 por cada moto (para os carros - só para constar – cobrava-se acima dos R$ 10,00). Pegamos apenas um trecho antes do trevo de Itumbiara, já em Goiás, com pista ruim (e põe ruim nisso), mas, logo adiante, a BR 153 já é duplicada e viemos muito tranqüilos até Brasília, onde chegamos por volta das 16h, com 675km rodados neste dia. Fechamos o projeto da viagem envolvidos em um clima de realização e de paz. Foi ótimo compartilhar esses 13 dias de estrada com amigos verdadeiros e muitos cenários belíssimos. Voltar para casa, depois de uma experiência engrandecedora como essa, é sempre bom. Ainda mais quando chegamos com o coração ainda tocado por emoções fortes dessa avemtira maravilhosa, que, certamente, marcará nossa vida para sempre. No total, viajamos por 6.496 km, considerando o trajeto de ida e de volta .